Este blogue esteve em dormência durante algum [bastante] tempo. Mas como o [seu] tema [e objeto] continua [e de certeza que continuará] a ser uma das minhas paixões, decidi reativá-lo, sem antes apagar algumas das postagens que considerei de menor relevância para a História da Ordem do Templo [e da Ordem de Cristo] em Portugal [outras poderão vir a ter o mesmo fim]. Decidi [também] que algumas das [postagens] já existentes irão sendo acrescentadas [e/ou alteradas], enquanto que [mais relevante] novas notas [postagens] serão [obviamente] acrescentadas. Por fim, decidi alterar-lhe o pomposo nome que tinha e atribuir-lhe um outro mais consentâneo com o seu conteúdo. Alea jacta est.
Abrançalha [de Baixo e de Cima] [São Vicente [1], Abrantes, Santarém]


O nome da localidade terá tido origem no do alcaide [mouro] Abraham Zaid, que dominou Abrantes até à conquista da cidade por D. Afonso Henriques, no ano de 1148 [2]. No entanto, o topónimo radicará, com maior probabilidade, no da cabeça do Concelho (a que se acrescentou o sufixo alha). Encontramo-lo já formado e sem variante num documento de 29 de Abril de 1350 (AHCA, SV, 1, 13) [...] - transcrição de um documento de 2 de Setembro de 1317 [3].

Foi casa da Ordem de Cristo, sita na diocese da Guarda, fundada após a reforma (1529) de frei António de Lisboa. O Breve de Gregório XIII (1572-1585), pelo qual foi novamente reformada a Ordem (11 de novembro de 1577), extingui-la-ia conjuntamente com o convento de Nossa Senhora da Luz [Carnide, Lisboa], alegadamente por se acharem “em lugares muito indecentes para que os freires que nela vivem possam mandar-se a Seminários mais sadios dos estudos e fora de perigos, conformar-se na vida com os seus freires [4].


[Abrantes] tem 2 conventos de frades e 2 de freiras. [...] o Convento dos frades de S. António foi fundado por D. Lopo d'Almeida, 3.º Conde d'Abrantes, começando as obras em 1526; era situado no sítio da Ribeira de Abrançalha, no mesmo local em que existira a ermida de N. S.ª da Luz. Os frades viveram 45 anos n'este convento, mas por falta de condições hygienicas, ou porque o tempo e a falta d'aceio o tornasse insolubre, o facto é que os frades começaram a pensar na construcção d'outro convento [5] [6]


[1] compreende [...] os logares de Fonte do Aipo, Val do Rabão, Moinho dos Cubos, Casal, Abrançalha de Baixo, Abrançalha de Cima, Senhora da Luz, Val de Cerejeira, Val de Fontes, Outeiro da Senhora da Luz, Val de Sta. Catharina, S. Lourenço, Samarra, Chainça, Esperança, Quinta da Minhoca, Quinta da Areia, Val de Rans, Quinta dos Telheiros, Gumeme, Fonte de S. José, Quinta de S. José, Mesas, Aldeia Rosa, Hortas, Bréjo, Ramalhões, Quinta Velha, Taínho, Concavada, Alfarrarede de Baixo, Alfarrarede de Cima, Barca do Pégo, Magdalena, Chão de Vide, Bom Sucesso, Themudas, Olho de Boi, Entre as Ribeiras, Casaes, com uma ermida, Paul; os casaes de Revelhos, das Sentieiras, da Amarella, Branco, do Gaio, das Necessidades, do Val da Vinha, de Alvaro Gil, de Azenha Nova, de S. Miguel, da Quebrada, da Cordeira, e a quinta das Sentieiras. [Chorographia moderna do reino de Portugal, vol. IV, p. 157)
[2] É tradição que o nome tenha derivado do velho mouro Abraham Zaid, o lendário alcaide. [frei João da Piedade]
[3] Eduardo Campos e Joaquim Candeias Silva, Dicionário toponímico e etimológico do concelho de Abrantes.
[4] Manuel J. Gandra, Guia Templário de Portugal, em Cadernos da Tradição, n.º 1, p. 229.
[5] Diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, numismatico e artístico, vol. I-A, p. 19.
[6] Convento fundado em 1526 no lugar da Ermida de Nossa Senhora da Luz, sendo mais tarde, em 1571, construído na Quinta da Arca. Desta segunda construção, restam apenas algumas ruínas do edifício principal e do seu aqueduto. Em 1601, foi construído pela terceira vez, no monte de Abrantes. Em 1834, depois das Ordens Religiosas serem extintas, ficou votado ao abandono.
Actualmente, desta edificação apenas restam as ruínas do convento e um aqueduto com 17 arcos em volta perfeita. Este convento foi construído segundo a indicação de Filipe I, que ordenou a transferência do convento original da Ribeira da Abrançalha para aqui no final do século XVI e princípio do século XVII, com o apoio de D. Lopo de Almeida, Conde de Abrantes. No século XVII a quinta e o convento foram abandonados pelos frades, que foram para o centro de Abrantes e a propriedade foi vendida a Diogo Marchão e Maria Gamita. Na segunda metade do século XIX toda esta área era possuída por João Freire Temudo Fialho de Mendonça e faz parte da Quinta da Arca.
O sítio que os Frades escolheram para o novo Convento foi na ribeira, chamada de Vale de Rãs, onde se dizia as bicas, por uma de muita água que, atravessando fazendas, corria para os olivais para benefício público. Com o produto da venda do Convento da N. Senhora da Luz, hortas e esmolas da população, comprou-se novo terreno e deu-se início à construção do segundo Convento de Santo António dos Piedosos, em Vale de Rãs, contra a vontade, já anteriormente manifestada dos moradores da Vila de Abrantes. Possuindo melhores condições que o anterior, situado em terreno “plano”, dai chamar-se Chainça, foi então ordenada a transferência da Ribeira da Abrançalha, para a Quinta da Arca, em meados do Século XVI (1571). Património classificado como valor concelhio (Decreto n.º 129/77, de 29 de Setembro), as ruínas do antigo Convento de Santo António ainda apresenta, traços visíveis do que foi a enfermaria, a hospedaria, um dormitório (de que há paredes e janelas das celas), a sacristia, via-sacra e paredes da Igreja. Enquadrado por habitações recentemente construídas, nos terrenos em redor do antigo Convento, ainda se pode ver o que resta do aqueduto que para ali conduzia a água. Na Quinta da Arca, à semelhança do que aconteceu na Ribeira da Abrançalha, os Frades foram assolados por várias doenças. Sem outras alternativas que não fossem os “chãos de Abrantes”, os Frades resolveram aceitar a oferta e construir no monte da Vila, o derradeiro e último Convento de Santo António. [José Manuel d'Oliveira Vieira, em jornal de Alferrarede, n.º 268, fevereiro de 2008]
Algodres [Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda]


            Esta freguesia, tudo o indica, tem um povoamento ancestral, o que [facilmente] se comprova pelos vestígios do castro do monte de Santa Bárbara, derrubado pelos romanos, onde hoje está a capela da mesma invocação.
            Relevante é [ainda] a chamada fonte Cabeça [romana] onde, mais tarde, viriam a ser gravadas as armas reais portuguesas invertidas por castigo de Dom João I imposto a Castelo Rodrigo. Existem também diversas sepulturas antropomórficas situadas, por exemplo, em Quadrelas [1] e na Cova da Moira.
Não existem dúvidas quanto ao fato de já ser povoada no ano de 960, sendo sua donatária Dona Chamoa, sobrinha do rei de Leão, Ramiro II que, ao morrer sem descendência, a povoação foi doada à condessa Mumadona, fundadora da cidade de Guimarães.
Por bula do papa Lúcio III foi entregue à Ordem de São Julião do Pereiro [2] [3].


[1] No lugar das Quadrelas, na freguesia de Vilar de Amargo, há uma sepultura cavada num penedo, onde jaz uma moura encantada.
Um dia, dois homens encaminhavam-se para esse local, tratando a terra cultivada de cereal.
Pobres que eram, aproveitavam todos os sítios onde o centeio se pudesse desenvolver. O mais novo disse ao pai que ia tentar cavar em volta da alta rocha que ali se encontrava. Cansado de batalhar contra o duro terreno, reparou numa estreita fenda que havia no penedo. Curioso, cavou com mais afinco, para ver se descobria o que por ali estaria escondido.
Foi grande a sua surpresa quando a enxada bateu numa superfície dura. Afastou a terra e viu uma tampa. Chamou o pai e ao levantarem-na encontraram uma panela cheia de moedas de ouro. Espantados com tal descoberta, correram para casa, contando à mulher e à filha o sucedido, escondendo a panela em local seguro, jurando guardar segredo da descoberta. Alguns dias depois o rapaz começou a sentir-se mal e caiu de cama.
Chamaram o médico, mas este não foi capaz de descobrir qual o mal que afligia o moço.
Uma tarde, quando ele se encontrava sozinho em casa, apareceu-lhe uma velha, de cabelos compridos e desgrenhados, ocultando-lhe completamente o rosto que, numa voz arrastada, lhe disse que não procurasse mais riquezas junto ao penedo, pois a ousadia e cobiça podia sair-lhe cara.
Poucas noites depois, quando a família dormia a sono solto, o vulto da velha apareceu repentinamente no quarto do pai e, dirigindo-se para a cama do casal, deu-lhe duas bofetadas. O homem acordou estremunhado e perguntou à mulher qual a razão de lhe ter batido. Ela, espantada, disse não saber do que estava a falar.
Ao outro dia de manhã, quando contaram o sucedido ao filho, este pôs-se a cismar no que a velha lhe tinha dito, mas não contou nada aos pais. Tomando a refeição da manhã, pegaram nas enxadas e dirigiram-se para as Quadrelas, a trabalhar o pouco terreno que ali possuíam. Único sítio de onde tiravam sustento para a casa.
Andavam entretidos na faina de lavrar o terreno, quando do meio de umas pedras saltou uma cobra que se enroscou na garganta do arado.
Refazendo-se do susto, preparavam-se para afastar o réptil com um pau, quando repararam estupefactos que este tinha desaparecido.
Continuando a faina, o rapaz encontrou no meio de um rego um cordão com uma medalha de ouro, mostrando-o de imediato ao pai.
Este, ao ver tão valiosa peça, disse que era para a filha.
Foi então que o rapaz ouviu a voz da velha, dizendo-lhe:
- Lembra-te do que te recomendei!
Não te atrevas a dar o cordão à tua irmã. Põem-no ao pescoço da tua cadela e verás o que acontece.
O rapaz contou ao pai o que a misteriosa voz lhe tinha dito. Deixando o trabalho, regressaram a casa e seguiram o conselho da velha. Chamando a cadela, puseram-lhe o cordão ao pescoço e qual não foi o seu espanto ao verificarem que o pobre animal tinha desaparecido. Atirando com o cordão para longe, compraram um terreno com o dinheiro que tinham achado e abandonaram o local maldito, que apesar de lhes ter permitido melhorar de vida, tantas preocupações lhes tinha dado. [aqui]
[2] A Ordem de Alcântara Nasceu em territórios que viriam depois a ser de Portugal, nas ribeiras do Rio Côa (Beira Alta), como Ordem de São Julião do Pereiro, instituída por D. Henrique, Conde de Portugal, em 1093.
Depois de sua conquista aos muçulmanos, a defesa da vila de Alcântara foi outorgada à Ordem de Calatrava em 1214, mas quatro anos mais tarde renunciaram à defesa. Então Afonso IX de Leão encomendou a defesa à recentemente formada ordem dos Cavaleiros de São Julião de Pereiro em troca de certa dependência de filiação com respeito à ordem de Calatrava, daí que adotassem também a regra de Cister. A raíz do estabelecimento de sua sede central na vila recebida, o primitivo nome de "ordem de São Julião"' foi desaparecendo paulatinamente, até que em 1253 seus mestres se intitulavam “mestres da ordem de Alcântara”, ficando reduzida San Julián del Pereiro a ser uma simples comenda da ordem. [aqui]
[3] A localidade de Pereiro fica localizada no concelho de Pinhel e distrito da Guarda. Existe quem defenda que a sede da Ordem ficaria, ao invés, a pouco mais de 50 quilómetros de Ciudad Rodrigo [Salamanca, Castilla y León], entre a Reigada [Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda] e Cinco Vilas [Idem].
Algodres [Fornos de Algodres, Guarda]


Em relação à origem do seu nome existem [pelo menos] três teorias, restando aprofundar qual delas poderá ser a correta:
1.      A romana, que o faz derivar da [pretensa] palavra latina alcodrium;
2.      A árabe, ou seja, al cton [algodão] -> Algodrons -> Algodes -> Algodres. Existe [ainda] quem defenda a hipótese de derivar de al godor [plural de gadir], significando lago, lagoa ou [mesmo] ribeiro; e
3.      A celta, através de Al.
A freguesia teve carta de foral dada, em 1200, por D. Sancho I. Posteriormente, a localidade recebeu novo foral, em 6 de março de 1311, dado por D. Dinis e, finalmente, um outro, a 20 de maio de 1514, por D. Manuel.
As Inquirições de D. Afonso III referem-se-lhe várias vezes, destacando-se os nomes dos cavaleiros-fidalgos Afonso Fernandes, Mem Pichel, Fernão Lopes e Estêvão Peres [de Tavares] que, parece, desrespeitavam, no tempo de D. Sancho II, as concessões dos concelhos.
A vigairaria era do padroado real e foi comenda da Ordem de Cristo.

António Bernardo da Costa Cabral nasceu em Fornos de Algodres, pequena vila encravada nas serranias da Beira, distrito da Guarda, a 9 de Maio de 1803, filho segundo de António Bernardo da Silva Cabral, um modesto proprietário rural e lavrador, falecido em Fornos de Algodres em Junho de 1870, Cavaleiro em 1841 e Comendador a 21 de Janeiro de 1845 da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, e de sua mulher Francisca Vitória Rebelo da Costa Corte-Real. Não sendo oriundo de família rica, os pais, face às despesas que já incorriam com os estudos do filho mais velho, optaram por lhe destinar uma carreira militar.
Para tal, mandaram-lhe ensinar as primeiras letras pelo abade da terra, como era então costume, mas o jovem tão bem se houve que aos 15 anos de idade estava habilitado com os preparatórios da Universidade de Coimbra, para onde o pai, com grande sacrifício da economia familiar, se resolveu enfim a mandá-lo também. Ali, aluno brilhante, conclui em 1823, com apenas 20 anos de idade, a sua formatura em Direito, iniciando de imediato a prática da advocacia. [aqui]

De entre as várias lendas existentes [1], destaco a da [chamada] quinta do Inferno:
Um certo homem constatou que junto de uma gruta ou fonte se reuniam uns indivíduos estranhos. Resolveu investigar e durante uma noite de inverno constatou que eram diabos disfarçados de pessoas, embora com chifres na testa.
Foi descoberto e teve de fugir indo agarrar-se à corda do sino, talvez para o tocar a rebate. Contudo, não o chegou a fazer porque, àquela hora [meia-noite] cantou um galo preto e os diabos fugiram apressadamente.
Deste fato resultou chamar-se àquele sítio quinta do Inferno e a Algodres terra onde o diabo tem património.


[1] Lapa negra, lage escorregadia e lage da rainha, etc.
São Tomás de Cantuária e São Gregório Nazianzeno


29 dezembro – dia de São Tomás de Cantuária, patrono da Charola templária
Tomás Becket nascido em Londres em 1118 (no mesmo ano de Gualdim) foi nomeado arcebispo de Cantuária em 62... no mesmo ano em que Gualdim com seus freires, dá o 1.º foral aos moradores em Tomar.
Algum tempo depois, pelas artes do diabo - segundo a Legenda - surgiu grande debate, variância, e conflitos, entre o rei e S. Tomás. A discórdia era sobre os direitos e privilégios da Igreja, que Henrique acha cerceadores de seu poder...
Becket protesta contra esta lei e então começou a campanha de perseguição contra Tomás ...
Parte secretamente na noite mística de 13 de Outubro, (1164) e exila-se em França.
As negociações entre Henrique, o papa e o arcebispo arrastam-se durante quatro anos...
Em 1 de Dezembro de 1170, Becket desembarca em Inglaterra tendo na sua posse, cartas obtidas do Papa para suspensão do arcebispo de York, e os outros prelados que o tinham assistido na coroação de Henrique o jovem herdeiro do rei, sem a autorização do papa...
Então, furioso, em um momento de raiva, Henrique terá pronunciado estas palavras fatais: "Não haverá ninguém capaz de livrar-me deste turbulento padre?"
E imediatamente 4 cavaleiros inimigos de Deus, se puseram a caminho para cumprir esse desígnio.
Numa tarde invernosa, à hora de Vésperas, pelas cinco da tarde do dia 29 de Dezembro, um crime abalou a Europa: 4 cavaleiros do rei Henrique de Inglaterra assassinaram o arcebispo de Cantuária, a golpes de espada, em sua própria catedral!... no dia seguinte ao aniversário festivo dos santos Inocentes.
Apenas 3 anos depois da morte, o Arcebispo foi canonizado pelo Papa... Cantuária tornou-se um lugar de peregrinação dos mais visitados a Ocidente, como relata Chaucer nos Contos de Canterbury:
Surge nas gentes o desejo de peregrinação/ e os romeus buscam lugares de remotos santos/ de mui antiqua veneração/ e vêm expressamente ... de todos os recantos!
S. Tomás torna-se o patrono dos sargentos do Templo, sendo-lhe dedicada por sua irmã uma capela na igreja Rotunda de Londres, junto à porta do hall ... Em 1185, segundo uma tradição, também o mestre templário Gualdim Pais, se deslocou a Inglaterra, aquando da consagração da nova igreja redonda do templo em Londres, e trouxe para Tomar relíquias (dois ossos da cabeça) de S. Tomás de Cantuária, pelo qual tinha grande admiração, para enriquecimento de sua igreja. Provavelmente foi feito na época um relicário com formato de cabeça para guardar aqueles ossos (como era costume medievo, os relicários tomarem a forma da parte do corpo, a que pertenciam os ossos do santo)... A cabeça provocava medo nos iniciados, pois era usada nas admissões da Ordem, como relíquias a venerar...
Mas depois com a perseguição às cabeças, no tempo do tenebroso Filipe o Belo, esta desapareceu...
O nosso Infante D. Henrique se refere a seu culto em Tomar, numa petição ao papa Eugénio IV de 1434. E um de seus criados navegadores porá mesmo o nome de S. Tomás a uma das ilhas descobertas no arquipélago dos Açores...


2 de janeiro - dia de São Gregório Nazianzeno
S. Gregório - um dos 4 doutores da igreja oriental - nasceu em Arianzo, próximo a Nazianzo / Capadócia no ano 329 DC., tendo dedicado a sua vida à meditação e à luta contra a heresia arianista.
Chamado pelo Imperador Teodósio o Grande para a cátedra de Constantinopla (379), profere 5 discursos sobre a Trindade que lhe dão fama como teólogo! Em 381 participa no I Concílio de Constantinopla que define a Divindade dogmática do Espírito Santo. Depois renuncia à cátedra, para evitar disputas entre os pastores da igreja e retorna à vida contemplativa em Arianzo onde morre aos 61 anos de idade (390).
Em época posterior, procedeu-se à distribuição de suas reliquias, sendo grande a sua veneração. Gualdim trouxe da Terra Santa, aquando da sua participação nas Cruzadas, um relicário com 2 dedos da mão direita de S. Gregório Nazianzo.
Famosa obra de arte, enriquecida com pedrarias no tempo de D. Manuel, esteve por períodos, na Charola e na Igreja de S. Maria, aqui exposta em um pé do altar-mor... encontrando-se hoje depositada no museu (Tesouro) da Sé de Lisboa. [Templanima]
Oldrões [Penafiel, Porto]


[Santo Estêvão de] Oldrões é uma freguesia do concelho de Penafiel e o seu território abrange o castro de Monte Mozinho, uma das mais vastas estâncias castrejas peninsulares, e o neolítico castro do Reguengo.
No antigo concelho de Penafiel de Sousa a igreja de Oldrões foi, no passado, abadia de apresentação da casa da Calçada [1], de onde passou, mais tarde, para a comenda [local] da Ordem de Cristo e, por fim, para a reitoria da Mitra. 

[1] Pertença de Gonçalo Peixoto Silva, Senhor dos direitos reais deste concelho e das armas que ferem.
Águas Santas [Póvoa de Lanhoso, Braga]


Águas Santas, pertence [desta feita] ao município de Póvoa de Lanhoso, distrito de Braga, e pode ler-se na internet que: Dista 7 Km da sede do Concelho.
Situa-se no vale do Cávado, rio que atravessa as suas terras.
Paixão Bastos, no seu livro sobre a Póvoa de Lanhoso refere: Águas Santas – tanto esta Freguesia como a sua Igreja são antiquíssimas, atribuindo-se a reedificação aos Templários, o que prova a sua antiguidade.
Houve aqui também um antiquíssimo Mosteiro de Cónegos e cónegas de Santo Agostinho, Crusios; em 1130 foi suprimido o de cónegas, por causa das imoralidades que se praticavam e extinto de vez em 1300. Deu-o D. Afonso IV em 1340 ás Freiras do Santo Sepulcro, que haviam sido expulsas de Jerusalém pelos Turcos, fundando elas aqui um hospital que chegou a ter grandes Créditos.
Depois voltou a ser Convento misto de Frades e Freiras, conservando-se assim até ao ano de 1492 em que D. João II o extinguiu, unindo-o á Ordem de Malta, de que foi Comenda. Foi o único Convento do S. Sepulcro que houve no Reino.
[Igreja de Nossa Senhora de Águas Santas de] Rio Covo Santa Eulália [Barcelos, Braga]

A Freguesia de Rio Côvo Santa Eulália pertence ao Concelho de Barcelos, Distrito de Braga […] Banhada pelo Rio Côvo, Rio Côvo Santa Eulália está situada parte na encosta do Monte de Remelhe, que aqui lhe chamam Monte Grande, e parte em vale ameno e fértil. Confina com as Freguesias de São Paio de Midões e Várzea, a Norte; Carvalhas e Silveiros, a Sul; Moure, Fonte Coberta e Carreira, a Nascente e, ainda, com Remelhe, a Poente.
O documento mais antigo que se conhece mencionando esta freguesia data do ano de 906 [1], designando-a de Santa Eulália de Águas Santas, Santa Olaia ou Santa Baia, como outrora lhe chamava o povo. Só mais tarde é que viria a adoptar o apelido do rio que nela passa. Aparece neste tempo igualmente com a designação de Sylva Scura significando “bosque escuro” dando a entender que seria uma zona de mata densa. As suas fronteiras mantêm-se desde então sem alterações significativas. A designação de “Águas Santas” resulta das águas de uma fonte desta Freguesia serem consideradas milagrosas [2].
No Censual de Braga, do século XI, já surge com a designação de Santa Eulália de Ribulo Côvo. A Freguesia aparece ainda mencionada nas Inquirições de D. Afonso II, em 1220. Depois, em 1290, aparece como Couto de Santa Ovaia de Rio Côvo.
Rio Côvo Santa Eulália, estava integrada nas Terras de Faria. O Rei não tinha aqui algum reguengo e davam ao Senhor da terra “colheita” umas vezes o terço, outras o quarto e outras o quinto. Esta Freguesia tinha dentro dos seus limites sesmarias e 18 casais, o [Ordem de São João do] Hospital [de Jerusalém] 11 Casais, o [Cónegos Regrantes do Santo] Sepulcro 1 casal e Várzea 4 casais. A sua comenda tinha ainda casais em Midões, Silveiros, Remelhe, Moldes, Pedra Furada, Chorente, Moure, Paradela, Pereira, etc.
Esta Freguesia foi Comenda dos da Ordem dos Templários que, segundo a opinião de alguns escritores, foi admitida em Portugal, em 1125, pela Rainha D. Tareja. Em 1128, já tinha casa em Braga, onde também teve um Hospital. Extinta a Ordem dos Templários em 1312, el-rei D. Dinis criou a nova Ordem de Cristo, passando para esta todos os bens daquela. […] [aqui]


[1] Está datado de 11 de janeiro e trata de um litígio entre os bispos de Iria Flávia [Dom Sesnando] e de Coimbra [Dom Nausto] sobre a posse da igreja e villa de Santa Eulália [Diplomata et Chartae, n.º XIII].
[2] Aqui existe uma nascente de águas de cujas propriedades, ainda hoje, o povo fala com admiração e que relaciona com as Caldas de Eirogo, além Cávado. Há a crença na existência de umas antigas termas que acabariam nos tempos dos mouros.
Que aqui tinham existido umas termas romanas ou, pelo menos, um santuário ligado ao culto das águas, tão frequente no Noroeste peninsular, não pode haver dúvida. [Carlos Alberto Ferreira de Almeida, Ainda o documento XIII dos Diplomata et Chartae]
[Lenda do] rei Wamba [Castelo de Ródão, Castelo Branco]


Nos portas de Ródão do lodo do Beira Baixa (Norte do Tejo) vivia um Rei que tinha lá um Castelo que se chamava Rei Wamba [1] e que dominava este lado. Este era um guarda avançado da Egitânia (Idanha-a-Velha).
O lado de lá era dominado por um Rei Mouro.
A mulher do Rei Wamba perdeu-se de amores pelo Rei Mouro e este para a raptar tentou fazer um túnel que passaria por baixo do Tejo para a poder ir buscar.
Os cálculos do Rei Mouro foram mal feitos e o buraco saiu acima do nível das águas (conforme ainda se pode ver). A mulher do Rei Wamba entrou em pânico e o Rei Wamba descobriu a finalidade do buraco.
O Rei Wamba vendo a paixão que ela manifestava pelo outro, ofereceu-a então ao outro Rei como presente, mas sendo atada à mó de um moinho, rolando pelas encostas até ao rio Tejo. Pelo sítio onde passou a mó com a mulher do Rei Wamba atada nunca mais nasceu qualquer vegetação, conforme hoje ainda se pode verificar no local [2].


[1] Segundo a tradição, o rei visigodo Recesvinto morreu em Gertigos, em 672, não longe da Idanha, lá para os lados de Salamanca. Reunida imediatamente a "aula régia", foi Vamba eleito sucessor do rei. Estava ele na Egitânia, sua terra natal, onde uns enviados da corte o procuraram para lhe participarem o facto. Não acreditou e não quiz aceitar o pesado encargo. Ameaçado de morte se não quizesse o trono, não se perturbara e teria dito que só aceitaria a coroa se essa fosse a vontade de Deus! E para tal se certificar, pegou numa vara de freixo, espetou-a no chão e exclamou: “Se é verdade que Deus quer que eu seja rei, prove-o fazendo voltar as folhas a verdejar nesta vara que também deverá tomar raízes!” E imediatamente o milagre se consumou! [Fernando de Almeida, Ruínas de Idanha-a-Velha, Lisboa, pp. 18-19]
[2] José Carlos Duarte Moura, Contos, mitos e lendas da Beira, p. 66.
Senhora do Castelo [Castelo de Ródão, Castelo Branco]


A imagem da Senhora do Castelo é uma pequena Virgem com o Menino em pedra calcária. Mede 0,78m de altura. É uma escultura provavelmente do século XVII. Nesta imagem destacamos o tratamento cuidado das mãos e das faces.
A Virgem tem a cabeça parcialmente coberta com uma túnica rosa que lhe recobre a quase totalidade do corpo. Os cabelos são castanhos, escorridos e ligeiramente puxados para a parte posterior da cabeça. As orelhas são enormes, quase desproporcionadas. Ambos os lóbulos estão furados. O nariz está equilibrado em relação ao rosto. É ligeiramente afilado e está desviado para a direita. A boca é pequena, com lábios suaves e bem talhados. Os olhos são exoftálmicos e o olhar estrábico vertical. O rosto prima essencialmente pelo equilíbrio dos seus elementos e pela perfeição do traço. A cabeça está virada para a esquerda.
No toráx não há vestígios de mamas. Observam-se traços no calcário que teriam a função de delimitar vestes ou cores mas que não foram respeitados pelo pintor. Sob o decote do vestido em forma de V aparece uma camisa clara que atinge o arranque do pescoço.
O braço direito está flectido em ângulo de 90 graus, ao nível da articulação do cotovelo. Os dedos polegar e indicador da mão direita seguram o pé esquerdo do Menino, que está ao colo. Um grosso manto azul cobre o braço direito. No antebraço temos a manga muito larga do vestido cor-de-rosa. A camisa, já referida, termina na articulação do punho. O dorso da mão é papudo e os dedos são longos.
O Menino assenta sobre o braço esquerdo. O manto azul não cobre este braço. A manga do vestido rosa chega a meio do antebraço e o seu perímetro é ainda superior ao do braço direito. A camisa branca também termina ao nível do punho. Os dedos são igualmente longos e a mão parece masculina. Sobre os dedos, ligeiramente abertos, assentam as nádegas do Menino.
Ao nível da cintura, existe um cinto talhado no calcário e daí para baixo o vestido rosa apresenta pregas.
A perna direita está ligeiramente flectida ao nível do joelho. O manto azul cobre totalmente a zona do baixo ventre e pernas, fazendo refegos em diversos pontos. O vestido rosa volta a aparecer ao fundo do manto azul. A ponta do sapato direito, de forma arredondada, aparece ao fundo do vestido. Não há vestígios da perna e pé esquerdos.
Todo o flanco direito do Menino está em contacto com a santa. O Menino é uma figura rechonchuda, de cabelo castanho ondulado, nariz arrebitado, boca pequena e olhos exoftálmicos. A mão e o antebraço direito repousam sobre o ombro esquerdo da Virgem. A mão esquerda segura uma bola azul, junto ao toráx da Senhora. O pé esquerdo do Menino é seguro pela mão da Santa. A perna direita está flectida ao nível do joelho. O Menino veste uma túnica, azul-esverdeada, presa sobre o ombro direito, que lhe cobre a quase totalidade da região posterior, o abdómen e parte das coxas.
Na parte traseira da imagem existe um roço, com 0,45m de altura, 0,11m de largura e 0,095m de profundidade, que se inicia na base e atinge o nível do toráx. Esta cavidade, desbastada de forma muito grosseira, foi realizada posteriormente à feitura da imagem, com o objectivo de a tornar mais leve.
A imagem tem a pintura muito degradada. Além das cores da última pintura, já referidas ao longo do texto, aparecem outras sob a camada superficial [1].


[1] João Caninas, Francisco Henriques e Jorge Gouveia, O castelo de Ródão e a capela da Senhora do Castelo (Vila Velha de Ródão).
Abiúl [Pombal, Leiria]

Segundo José Manuel Capêlo, Portugal Templário. Relação e sucessão dos seus mestres, 1124-1314, foi comenda da Ordem do Templo. A freguesia ocupa hoje a mesma zona da antiga Abizeude, povoação visigótica.
Foi Dona Examena, devota mulher do nobre Diogo Peres, que lhe mudou o nome para o que hoje tem [1]. Estes, ter-lhe-ão concedido foral em 1167 para, em setembro de 1175, D. Afonso Henriques a doar ao mosteiro de Lorvão, representado pelo abade D. João.


A lenda de Nossa Senhora das Neves terá tido origem nos anos de 1561-1562 quando a sua população foi contaminada por um surto de peste. Sem esperança, o povo e os fidalgos foram em procissão à igreja implorar a Nossa Senhora o fim da epidemia. Ao pedido juntaram a obrigação de a festejar, no primeiro domingo de agosto de cada ano, com missa solene, sermão e corrida de toiros. A peste cessou e o povo agradecido tem cumprido a promessa.


[1] Ao que parece corruptela do hebraico Abiud.
[Lenda da] Senhora do Castelo [Castelo de Ródão, Castelo Branco]

Conta a lenda que numa altura em que as portas de Ródão iam fechadas, um arrais mandou os seus pescadores passarem por lá, mas nessas alturas tudo o que por ali passa vai ao fundo. Então os pobres pescadores pediram a protecção da Virgem prometendo erguer-lhe uma capela na serra, perto do Castelo. Então movidos pela fé e coragem avançaram com o barco. Este afundou-se tendo vindo o aparecer um pouco adiante junto à Fonte das Virtudes [1]: Deu-se no entanto um caso estranho: desapareceu o barrete de um pescador. Então quando os pescadores olharam para a serra viram a imagem de Nossa Senhora. A promessa foi cumprida, a imagem foi transportada para a capela que os pescadores construíram.
Todos os anos em Agosto lá vão cumprir a promessa por a Santa ter salvo os pescadores [2].


[1] No monte de Vilas Ruivas, termo da Vila Velha de Redém, comarca de Castelo Branco, está uma fonte a que chamam das Virtudes. E se é pelas que se experimentam na sua água, está bem posto o nome. Ela nasce tão quente que não se pode beber. O seu mineral de enxofre, que o cheiro e o calor mostram. Há experiências de que as pessoas que tem sarna se curam lavando-se com esta água. Porém não terá só esta virtude, senão que os seus banhos serão como os mais sulfurosos, que nos números acima temos falado, e servirão para os mesmos usos. [Francisco da Fonseca Henriques, Aquilégio medicinal, em que se dá noticia das agoas de Caldàs, de fontes, rios, poços, lagoas e cisternas do Reyno de Portugal e dos Algarves que, ou pelas virtudes medicinaes que tem, ou por outra alguma singularidade, são dignas de particular memoria, 1726]
[2] José Carlos Duarte Moura, Contos, mitos e lendas da Beira, p. 66.